A narração é
um texto dinâmico, que contém vários fatores de dependência que são
extremamente importantes para a boa estruturação do texto. Narrar é contar um
fato, e como todo fato ocorre em determinado tempo, em toda narração há sempre um começo um meio e um fim. São requisitos básicos para que a
narração esteja completa.
Sendo
assim, começaremos por expor os elementos que formam a estrutura da narrativa:
·
O FATO OU ENREDO ( O quê?)
O enredo (ou trama, ou intriga) é, podemos dizer, o esqueleto da
narrativa, aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar
dos acontecimentos. O enredo se organiza em torno de um conflito, ou seja, uma
oposição entre os elementos da história e cria no leitor ou ouvinte expectativa
em relação aos fatos. O enredo possui as seguintes partes:
- Introdução (apresentação): o narrador costuma apresentar os fatos
iniciais, as personagens e, eventualmente, o tempo e o espaço. A introdução
de um texto narrativo é muito importante, porque deve despertar a atenção do
leitor e situá-lo diante da história que vai ler.
- Complicação (desenvolvimento): é a parte do enredo em que é desenvolvido o
conflito. Uma narrativa pode ter mais de um conflito. Em um romance ou novela
de Tv, por exemplo, muitos são os conflitos desenvolvidos ao longo da história.
- Clímax: é o momento culminante da história, o momento de maior tensão, aquele
em que o conflito atinge o seu ponto máximo. O clímax na narrativa deve
despertar a curiosidade e atenção do leitor.
-Desfecho (desenlace ou conclusão): é a solução do conflito, a parte final:
boa, má, surpreendente, trágica, cômica ou feliz.
·
O TEMPO ( Quando? )
O narrador pode se posicionar de diferentes maneiras em relação ao tempo dos acontecimentos - pode narrar os fatos no tempo em que eles estão acontecendo.O que chamamos de tempo cronológico (ou seja, demarcado pelos dias, meses, anos, séculos, horas, minutos, segundos);
Há também, a possibilidade de se entremear presente e passado,
utilizando a técnica de flashback que é o tempo psicológico. O
tempo psicológico reflete angústias, lembranças e ansiedades de personagens e
que não mantém nenhuma relação com o tempo propriamente dito, cuja passagem é
alheia à nossa vontade. Falas como "Ah, o tempo não passa..." ou
"Esse minuto não acaba!" refletem o tempo psicológico.
·
O LUGAR OU AMBIENTE
( Onde? )
O lugar ou ambiente é o cenário por onde se movem as personagens, podendo ser ao ar
livre, numa choupana, numa bela praia, enfim, entre tantos outros lugares, ou
seja, onde se desenrola o enredo.
Observe como sempre há relação estreita entre o personagem, seu
comportamento e o ambiente que o cerca; repare como, muitas vezes, por meio dos
objetos possuídos podemos fazer um retrato perfeito do possuidor.
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OS PERSONAGENS ( Com quem? )
Os seres que participam do desenrolar dos acontecimentos, isto é,
aqueles que vivem o enredo, são os personagens.
Os personagens caracterizam-se
como peças fundamentais que vão se
tornando cada vez mais familiares aos nossos olhos, à medida que participamos
ativamente da história.
Os personagens, por sua vez, não precisam ser adornados ao extremo nem desajustados ao ponto de “fugir do convencional”. Basta apenas que sejam bem construídas, obedecendo aos padrões de coerência.
Os personagens, por sua vez, não precisam ser adornados ao extremo nem desajustados ao ponto de “fugir do convencional”. Basta apenas que sejam bem construídas, obedecendo aos padrões de coerência.
Dessa
forma, há aqueles personagens que revelam sua participação na história de forma
mais contundente – também conhecidas como protagonistas, heróis ou personagens principais. Como também existem
as que se opõem a elas como vilões – denominadas de antagonistas,
que nem por isso ficam em segundo plano mediante o transcorrer dos fatos.
Juntamente com elas há outras – concebidas como secundárias, as quais colaboram para a sustentação da trama.
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O NARRADOR ( Quem conta a história?)
O narrador é o dono da voz ou, em outras palavras, a voz que nos conta
os fatos e seu desenvolvimento. Dependendo da posição do narrador em relação ao
fato narrado, a narrativa pode ser feita em 1ª ou em 3ª pessoa.
Temos assim, o ângulo, o ponto de vista, o foco pelo qual serão narrados
os acontecimentos (daí falar-se em foco narrativo).
Na narração em 1ª
pessoa, o narrador participa
dos acontecimentos; é, assim, um personagem com dupla função: o personagem-narrador. Pode ter uma
participação secundária nos acontecimentos, destacando-se, desse modo, seu
papel de narrador, ou ter importância fundamental, sendo mesmo o personagem
principal.
É importante observar que, nas narrações em 1ª pessoa, nem tudo o que é
afirmado pelo narrador corresponde à "verdade", pois, como ele
participa dos acontecimentos, tem deles uma visão própria, individual e,
portanto, parcial. A principal característica desse foco é, então, a visão
subjetiva que o narrador tem dos fatos: ele narra apenas o que vê, observa e
sente, ou seja, os fatos passam pelo filtro de sua emoção e percepção.
Já nas narrações em
3ª pessoa, o narrador está
fora dos acontecimentos; podemos dizer que ele paira acima de tudo e de todos.
Essa situação lhe permite saber de tudo, do passado e do futuro, das emoções e
dos pensamentos dos personagens - daí ser chamado de onisciente (o que sabe de
tudo). Reparem que o narrador onisciente "lê" os sentimentos, os
desejos mais íntimos da personagem (aliás, o narrador vê o que ninguém tem
condições de ver: o mundo interior do personagem), e sabe qual será a
repercussão desse ato no futuro.
Atenção!!!!!
Um importante detalhe ao qual devemos nos atentar reside no fato de que nunca podemos confundir autor com narrador. O autor revela-se como uma pessoa de carne e osso, como é o caso de Machado de Assis, Monteiro Lobato, Clarice Lispector, como também pode ser qualquer outra pessoa, não apenas representante da arte literária em si.
O narrador é quem se revela como uma personagem de total autonomia para dar rumo aos fatos que deseja relatar, pois o enredo somente se materializa porque ele existe.