segunda-feira, 6 de junho de 2011

O caso do espelho

Vamos iniciar nossa jornada com um texto, que ao meu ver tem tudo a ver com essa disciplina. É claro, divertido e curto. 


Ilustração: Alarcão
O CASO DO ESPELHO



Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. 

Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos: 

– Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui? 

– Isso é um espelho – explicou o dono da loja. 

– Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai. 

Os olhos do homem ficaram molhados. 

– O senhor... conheceu meu pai? – perguntou ele ao comerciante. 

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira. 

– É não! – respondeu o outro. – Isso é o retrato do meu pai. É ele, sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito? 

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho 

Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira. 

A mulher ficou só olhando. 

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando. 

– Ah, meu Deus! – gritava ela desnorteada. – É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu! 

– Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida. 

– Que foi isso, mulher? 

– Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato? 

– Que retrato? – perguntou o marido, surpreso. 

– Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira! 

O homem não estava entendendo nada. 

– Mas aquilo é o retrato do meu pai! Indignada, a mulher colocou as mãos no peito: 

– Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa? 

A discussão fervia feito água na chaleira. 

– Velho lazarento coisa nenhuma! – gritou o homem, ofendido. 

A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa. 

– Que é isso, menina? 

– Aquele cafajeste arranjou outra! 

– Ela ficou maluca – berrou o homem, de cara amarrada. 

– Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher! 

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato. 

Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada. 

– Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje! 

E completou, feliz, abraçando a filha: 

– Fica tranqüila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

Conto popular recontado por Ricardo Azevedo




  Atividades de interpretação e revisão gramatical:



                                            O caso do espelho
1) Na situação inicial do conto, há um homem do campo que vai à cidade. Ao passar adiante de uma nova loja, ele comete um engano. Qual foi o engano cometido?
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2. ) Ao referir-se à personagem como “um homem que não sabia quase nada” e que “morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata”, o narrador dessa história dá pistas, indícios sobre a personagem antes mesmo de o leitor saber o  que vai acontecer. Como seria uma pessoa que vivesse como essa personagem: tivesse as mesmas características e habitasse o mesmo ambiente?
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3) Por que ao olhar o espelho o “homem que não sabia de quase nada” achou que estava vendo o retrato do pai?
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4.) Por que motivo o “homem que não sabia quase nada” continuou teimando que  estava olhando para o retrato de seu pai mesmo com a explicação do dono da loja?
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5.) Para tentar ajudar na difícil situação, a mãe da moça foi verificar o retrato.                       Transcreva do texto as características que ela atribuiu à imagem que viu.
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6.) Releia :  “...Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.“
Em sua opinião, o que esse trecho revela: a mãe percebeu o engano ou também julgou estar vendo um retrato? Justifique sua resposta.
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7.) Retire do trecho os pronomes, indique a quem eles se referem, e classifique-os.
“― O Senhor... Conheceu... O meu pai? – perguntou ao comerciante.                                                                     O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.”
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8.) No trecho:
"Ela ficou maluca - berrou o homem de cara amarrada."
O pronome "Ela" refere -se à:
A) ( ) boa senhora. B) ( ) fotografia. C) ( ) esposa. D) ( ) imagem do espelho
9) Complete as frases empregando adequadamente os verbos entre parênteses.  Observe a frase do item a e continue você.
A) Raquel  abastece  o carro neste posto. (abastecer)
B) Eu_____________ da Campanha do agasalho do colégio. (participar)
C) Daniel ____________ em um posto de gasolina. (trabalhar)
D) Minhas amigas e eu ______________  boas lembranças das reuniões do clube. (guardar)
E) Juliano _____________ papéis nas ruas das cidades. (recolher)
• Agora responda:
Em que tempo estão as formas verbais que você empregou?
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10) Leia o trecho abaixo:
“E completou, feliz, abraçando a filha:
― Fica tranquila: a bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!”.
A) Que numeral foi usado no trecho? Classifique-o: __________________________________________________________________
B) O adjetivo “bruaca” usado no trecho, refere-se a qual substantivo?                                          Identifique e  classifique-o. _________________________________________________________________

 Nas questões abaixo julgue a resposta correta, marcando com um X somente 1 item.
11)  “Ah seu traidor de uma figa!”. Essa frase, no contexto em que aparece,
Caracteriza uma personagem:
A) (  ) feminina.    B) (  ) idosa.     C) (  ) infantil.     D) (  ) masculina.

12)  Leia a frase a seguir:
“Fica tranqüila. A bruxa do retrato já está com os dois pés na cova”.
A expressão em destaque tem, no texto, o mesmo sentido de:
A) (  )dentro da cova.   B) (  ) muito doente.    C) (  ) muito feia.    D) (  ) prestes a morrer.

13) Depois de ler o texto, escreva um final diferente para o conto. Você é capaz!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A arte de ler, escrever e reescrever, interpretar e se divertir ao alcance de todos.

Arteliterando no CEF 04 é um simples blog que tem como objetivo postar todas as criações dos meus queridos pupilos que são os verdadeiros autores das confusões malucas que aprontamos, juntos, em sala de aula.